quarta-feira, 6 de maio de 2015

ALGO QUE NÃO SEI O QUE É

Fico ali, rodeado de barulhos e conversas cotidianas, mas me sentindo invisível.
Sentado na estação do ônibus, ignorando todos os veículos que param e querem me levar para algum lugar, só fico pensando naquele que talvez nunca virá. Já encontrei e me despedi de vários rostos que tiveram a sorte de a condução estar ali somente por eles. Em alguns momentos do dia leio um best-seller, em outros reflito sobre a minha vida, mas na maioria das vezes penso. Penso em desistir e pegar o primeiro ônibus que parar e esquecer todo o tempo que estive esperando um Godot que nunca virá. O pior é que no momento em que estou quase certo de tomar a decisão vem aquela sensação... a mesma que você, leitor, já deve ter experimentado: “não, e se o ônibus que estou esperando já está chegando e eu, por ignorância, pegar um qualquer?”.
Pronto.
Desisto da ideia e volto a me sentar. Vejo o tempo na maior parte das vezes nublado; alguns raros momentos sinto o sol em meu rosto. Eu nunca durmo. Sonho todos os dias. Vejo várias pessoas partindo felizes com a chegada do ônibus, outras voltando tristes por não ser o que pensavam. Com algumas eu converso. Conversa cotidiana mesmo, nada muito elaborado. Na verdade, é sobre o tempo. Quer dizer, é a única coisa que realmente conheço. Eles perguntam: “E esse tempo maluco?”, e eu respondo: “Pois é, algumas vezes estamos no passado, esperando um futuro e esquecendo do que somos agora, coisa maluca mesmo”. Então rimos.
Pausa.
Ela parte e eu fico. Não gosto de perguntar nomes, pois sei que sentirei mais saudade, então prefiro nunca chegar ao assunto – para onde você está indo? Todos sabem para onde vão; eu não. Talvez, eu saiba. Só tenho medo de criar expectativas nas pessoas e isso me decepcionar. Prefiro esquecer a pergunta com um sorriso e me silenciar, escutar o som da natureza e de carros passando. Pessoas mudas e celulares tocando.
Penso.
Cadê? Já era para estar aqui. Crio ansiedade. Desespero-me. Ignoro tudo que vivi e só penso em como serei feliz quando eu conseguir. Mas serei mesmo? Às vezes, sinto que é uma forma de desviar a atenção do vazio que sinto. Do ser incompleto que sou. Acalmo-me. Tudo é tão natural. Vivo em ciclo. Sou interrompido pela chegada de um ônibus. Vejo a placa. Mais uma vez não é o meu. Ouço um “até logo”. Estou sozinho esperando. Tento dormir, mesmo sabendo que será impossível.
Meu ciclo.

Thiago Banik, escritor do blog: http://www.esperandonoponto.com.br/

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